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Shows drive-in têm buzinas no lugar de aplausos, estranhamento de artistas e cachês mais baixos - Imprima FM

Shows drive-in têm buzinas no lugar de aplausos, estranhamento de artistas e cachês mais baixos

Em vez de palmas e gritos, o som das buzinas e o piscar dos faróis estão dominando as plateias dos primeiros shows no Brasil após a pandemia da Covid-19.

No mês passado, Ivo Meirelles, Jota Quest e Leo Chaves se apresentaram para plateias cheias… de carros. Belo, Roupa Nova, Nando Reis, Anavitória e Turma do Pagode também têm shows no formato drive-in agendados para as próximas semanas (veja agenda no fim da reportagem).

O projeto com mais shows marcados é o Arena Sessions, com eventos variados e apresentações musicais no Allianz Parque, em São Paulo. A capacidade é de 285 carros, com 130 na área vip. Mesmo com preço de até R$ 550 por carro, os ingressos sempre se esgotam.

Mas antes de o estádio do Palmeiras virar o maior espaço deste “novo” tipo de show, outros artistas já tinham se aventurado em junho. Ivo Meirelles se apresentou no espaço Arena Estaiada, perto da ponte de mesmo nome, em São Paulo, no dia 25.

“Quando você entra no palco, não tem aplauso e nem buzina tem. Tem um estranhamento ali”, diz o cantor ao G1. “Depois da segunda, terceira música, segue normal, com todo mundo já entendendo. Mas subir ao palco foi bem estranho.”

Aos artistas que ainda vão se aventurar pelo esquema drive-in, o sambista dá uma dica: “Tem que se concentrar no show. Cada carro tem uma, duas, três pessoas vendo. Então, tem que fazer o show imaginando o semblante das pessoas nos faróis. Tem que estar focado nisso para não se perder.”

Quanto vale o show?

O formato não é mais o mesmo, e o cachê também não. O cantor garante que nestes tempos de crise “todo mundo tem que se flexibilizar em relação a cachê”.

“A flexibilização é geral. Está todo mundo perdendo alguma coisa: os artistas, os músicos, a plateia que vai de carro. O motorista não pode beber. Você não pode ir de Uber ou de táxi, então tem sempre alguém se sacrificando”, diz Ivo Meirelles.

Doreni Caramori, presidente da Associação Brasileira de Promotores de Eventos (ABRAPE), diz que é natural que exista uma adaptação na parte econômica com essa “nova realidade” do drive-in.

“O produtor não vai ter a mesma margem, a pessoa que aluga equipamentos não vai ter a mesma remuneração e os fornecedores como um todo vão ter que se adaptar. Vão ter que criar modelos diferentes, mais do que uma sessão, custos mais enxutos. Alguns não vão topar nessa condição. É mais uma alternativa de negócio”, explica Caramori.

Com menos ingressos disponíveis, a tendência é que seja mais difícil para produtores “fecharem a conta”. Eventos drive-in podem se tornar dependentes de patrocínios para dar conta dos gastos com artistas do primeiro time e com a estrutura.

“Em um formato novo, não só se espera valores diferentes dos praticados, como também, a aposta de novos ‘players’ como marcas”, analisa Guilherme Marconi, diretor da produtora Diverti.

Leo Chaves, que formava dupla com o irmão Victor, cantou para carros e motoristas no dia 20 de junho. Foi no estacionamento da Arena Petry, em São José, cidade a 6 km de Florianópolis. O sertanejo diz ter ficado tenso antes de se apresentar para 250 carros (com até 3 pessoas por veículo).

“Tinha notícia de que muitos artistas não quiseram fazer. Obviamente que se trata de um risco quando se vai fazer um evento desse”, explica Leo ao G1.

“Até porque ninguém conhece os moldes, é uma coisa que vai sendo adaptada. Mas quando nós subimos ao palco e vimos a quantidade de carros, as pessoas colocando os braços para fora, muita gente saindo pelo teto solar, levantando, curtindo, aquilo foi meio que um alento pra um artista que está há muito tempo sem contato com o público, sem expressar sua arte no palco.”

Leo sentiu falta do grito da plateia. “É um combustível. No drive-in, você não consegue perceber isso fora os momentos em que você está no intervalo. Aí você consegue ouvir gritos isolados. Não é um grito de multidão. Mas é um formato diferente e a gente sempre quer inovação.”

Em sua primeira apresentação após mais de 100 dias longe dos palcos, o Jota Quest tocou para carros no estádio do Palmeiras.

“Muito mais legal do que eu podia imaginar. A gente vive dessa energia. Pela primeira vez na vida eu gostei de um buzinaço”, disse Rogério Flausino, em entrevista ao programa “Encontro com Fátima Bernardes”. “Te lembra trânsito lotado, aquela confusão, estresse, aqui não… foi o contrário, quando foi o primeiro, eu falei: ‘é isso aí, galera, continua’.”

Em qualquer desses shows, estar dentro do carro não anula os cuidados básicos para a prevenção do coronavírus. É preciso usar máscara e higienizar as mãos com álcool gel.

A equipe do estádio usa bastões luminosos, como nos cinemas drive-in, para orientar os carros e indicar onde há vagas. Há pequenas caixas de som ao lado de cada vaga. Para ir ao banheiro, tem que se comunicar com a equipe do evento, por celular. Também é possível usar o telefone para pedir comidas e bebidas.

Também deve ser levada em conta a estrutura para um evento de cerca de mil pessoas. Há outros profissionais envolvidos na produção, da parte de prestação de serviços (segurança, limpeza, produção, vendas) e da estrutura do show (equipe técnica, banda).

Por conta disso, há artistas que não se empolgaram tanto com o formato drive-in. É o caso de Manu Gavassi. Ela era uma das atrações do Arena Sessions, mas desistiu e divulgou um comunicado cancelando o show.

“Esse festival em formato drive-in no Allianz Park foi marcado tempos atrás quando tínhamos a esperança das coisas melhorarem até julho. O que não foi o caso, as coisas só pioraram”, explicou Manu.

“Então mesmo com todas as medidas de segurança não estou confortável de fazer a minha apresentação e estou saindo do festival. Obrigada por serem sempre tão compreensivos e transparentes comigo. Estamos juntos nesse processo de evolução.”

E fora do Brasil?

No Brasil, eventos desse tipo com atrações mais conhecidas começaram em junho. Na Europa, o formato vem sendo testado para apresentações musicais desde maio. Dinamarca, Noruega e Alemanha foram pioneiros nos shows no estilo drive-in.

Nos Estados Unidos, a produtora Live Nation anunciou o projeto Live From the Drive-In, que começa neste mês. O nome mais conhecido no line-up, mais voltado ao country, é o do rapper Nelly. Na versão britânica, a banda Kaiser Chiefs e os rappers The Streets e Dizzee Rascal estão escalados.

O que mais chama atenção no projeto, porém, é a possibilidade de poder ter um espaço para curtir o show ao lado do carro. Seria uma boa opção para o mercado brasileiro quando a pandemia estiver mais controlada.

Esse novo formato, com os fãs encarando a banda de fora dos carros, seria ideal para nomes importantes do rock pesado que não pretendem “tocar para carros”. “É a coisa mais imbecil que eu já vi na vida”, disse Robb Flynn, do Machine Head, para a revista “Kerrang”.

“Não serve para o metal… Eu só entendo que estejam fazendo isso porque as pessoas estão desesperadas”, ponderou Schmier, do Destruction, ao site Metal Voice.

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