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O rapper Orochi estava a caminho de um show quando foi parado pela Polícia Rodoviária e acabou detido por porte de drogas e desacato a autoridades, em março de 2019.
Na época, ele já era conhecido no meio do hip hop, mas o episódio foi o início de um ponto de virada, que acabou tornando o cantor famoso muito além da bolha do gênero.
Levado à delegacia e liberado em seguida, ele demorou pouco mais de uma semana para lançar “Balão”, música que faz referência ao caso e a informações falsas com seu nome, que circularam na imprensa.
Foi seu primeiro grande hit. Até hoje o clipe é o mais visto dele no YouTube, com mais de 115 milhões de visualizações.
“Estava passando por um momento muito forte da minha vida, uma transição complicada. Estava perdendo meu avô, a mídia estava tentando me colocar como errado…”, lembra, em entrevista ao G1.
“Foi uma música fácil de escrever porque estava sentindo muita coisa, estava revoltado.”
“Fiz da queda trampolim. Às vezes a gente tem que agradecer até as coisas que não são tão boas. Essa música salvou minha vida, salvou minha família.”
“Balão” é uma das faixas do álbum de estreia do rapper, “Celebridade”, um conceito que Orochi passou a conhecer bem.
Aos 21 anos, ele é um dos símbolos de uma geração de artistas que nunca dependeu do rádio ou de aparições na TV para fazer sucesso.
Fez seu nome nas batalhas de rima em São Gonçalo, no Rio. Em 2015, com apenas 16 anos, conquistou o título de campeão nacional de freestyle. Depois, participou de dois dos projetos audiovisuais mais populares do rap, o Poetas no Topo, em 2017, e Poesia Acústica, no ano seguinte.
Mesmo antes do primeiro disco, Orochi já acumulava uma legião de seguidores nas redes sociais.
Hoje são 3,5 milhões no Instagram e mais de 3 milhões de ouvintes mensais no Spotify, números que lhe proporcionam uma rotina de ostentação que ele faz questão de narrar nas músicas.
“Celebridade” é um disco que fala das vitórias do rapper. E, por causa disso, também é sobre se tornar um modelo para outros jovens da periferia.
“Eles olham pra gente como se fossemos heróis. Nos tornamos um estilo de vida, que pode ser um caminho para o menor não ir para a boca de fumo”, diz.
O álbum foi pensado para consolidar o repertório de um show do rapper, mas saiu justamente quando as apresentações ao vivo foram suspensas por causa da pandemia do coronavírus.
“Pensamos em adiar, mas chegamos à conclusão de que poderia ser uma jogada boa, uma novidade para as pessoas ouvirem em casa. E deu certo.”
Seis meses de quarentena depois, “Celebridade” se tornou uma das pedras fundamentais do trap nacional.
Ao lado de Xamã e Matuê, que também têm trabalhos recentes bem-sucedidos (os discos “O iluminado” e “Máquina do tempo”, respectivamente), Orochi encabeça um bom momento do subgênero do rap de batidas mais arrastadas e graves no país.
Popular há vários anos nos Estados Unidos, o trap tem ido além das referências estrangeiras para encontrar um caminho mais brasileiro. Mas ainda falta investimento, na opinião do rapper.
“O nível do Brasil ainda é inferior por uma questão de infraestrutura. Um evento nos EUA tem uma estrutura muito maior”, avalia.
“Mas já somos referência. É o que sempre digo: a gente é gringo para os gringos. Quando todo mundo entender isso, vamos ter mais caminhos pra trilhar.”