A quatro meses de completar 83 anos de vida, em 25 de outubro, Roberto Menescal é um dos nomes fundamentais da música brasileira, sobretudo por ter contribuído como compositor para o cancioneiro da Bossa Nova com títulos emblemáticos como O barquinho (1961), Rio (1963) e Você (1964) – todos compostos em parceria com o amigo Ronaldo Bôscoli (1928 – 1994).
Mas Menescal também é importante por ter atuado como diretor artístico da gravadora Philips na década – os anos 1970 – em que a companhia fonográfica concentrava as maiores estrelas da MPB.
Por isso mesmo, o compositor, violonista, guitarrista e produtor musical de alma musical carioca e origem capixaba – nascido em Vitória (ES) em 1937 – ainda precisa ganhar biografia escrita com profundidade.
A narrativa rasa da biografia Roberto Menescal – Um arquiteto musical, alinhavada por Claudia Menescal, fica no mesmo nível superficial do livro O Barquinho vai… – Roberto Menescal e suas histórias (2010), lançado há dez anos.
Correto, mas sem estilo, o texto de Claudia Menescal se aproxima mais do formato de alentado perfil cronológico do artista, com foco na vida profissional. Falta a consistência esperada de toda biografia. Tanto que, na parte final, o livro mais parece uma wikipedia quando a autora lista feitos e fatos recentes da vida do artista.
Com narrativa entremeada com depoimentos (aparentemente reproduzidos sem edição) de artistas e amigos que tiveram os caminhos cruzados com o parceiro de Chico Buarque em Bye bye Brasil (1979), Roberto Menescal – Um arquiteto musical é a chamada biografia chapa branca que glorifica o biografado sem procurar mostrar a complexidade inerente à vida de todo ser humano.
A edição reforça o tom raso do texto ao dividi-lo em mais de 70 capítulos, sendo que alguns, como “A revelação do talento”, totalizam apenas três parágrafos (muito) curtos que ocupam somente um terço do espaço da página 22.
A forma como a farta galeria de fotos aparece no livro – consumindo 31 páginas com reproduções bem reduzidas de seis ou mais imagens em cada página – corrobora a sensação de que o livro foi editado sem o menor rigor.
Faltou um editor para organizar e valorizar o material colhido pela autora. Um editor atento, por exemplo, incorporaria os dois meros parágrafos do capítulo “Tensão nos bastidores” ao capítulo seguinte, “Maysa”, dedicado à cantora que lançou em disco a canção O barquinho, cuja partitura original é reproduzida ao fim do livro.
Para quem procura informações superficiais sobre a infância, juventude e a iniciação musical de Menescal, o livro pode até ser útil, mas está está longe de ser a biografia que – espera-se – ainda vai ser escrita sobre este ícone da música brasileira importante na carreira de cantoras como Elis Regina (1945 – 1982) e Nara Leão (1942 – 1989).
Com Elis, o contato foi profissional, mas intenso como tudo que se relacionava a Elis. Com Nara, a relação profissional consolidou amizade duradoura, tendo sido Nara a responsável por trazer Menescal de volta à vida artística (como músico, celebrado pelo toque da guitarra, e como produtor musical de discos de bossa nova feitos sob encomenda para o Japão).
Fora dos escritórios da gravadora Philips a partir dos anos 1980, Menescal deu continuidade à trajetória ainda em curso em discos e shows divididos com cantoras como Leila Pinheiro e Wanda Sá. Por isso mesmo, e por tudo isso, O barquinho ainda precisa ter o trajeto mais bem delineado em livros que mergulhem com mais profundidade nas águas claras da obra de Roberto Menescal.